Hoje, soube que um aluno meu mudou de escola. Ele já estava faltando há duas semanas, e graças as inúmeras vezes que a escola tentou entrar em contato com a família, soubemos de sua mudança de bairro.
Nestes cinco meses de aula, nunca ouvi o som da voz dele, ele nunca falou comigo ou com qualquer outra criança da sala.
A princípio, isso causou um pouco de angústia, afinal é difícil suportar o silêncio de quem quer que seja, e quando se trata de um aluno que não corresponde ao ideário que fazemos, isso choca.
Mas aprendi a lidar com essa angústia, e a manejar a aflição dos alunos, que estranharam o silêncio do colega e o trataram com animosidade. É, as crianças também sentem um incômodo e necessitam de uma intervenção para lidar com o estranho.
Na primeira vez em que ele esteve presente na nossa sala, eu contei uma história e na minha interpretação eu chorei ruidosamente, e, olhando discretamente, percebi o espanto e o riso dele, que rapidamente emudeceu quando percebeu que estava sendo observado.
Aí eu pensei..... ele sabe, ele sente, ele percebe, ele se espanta, ele ri.
E, depois de tudo, hoje, pesquisando outro tema, encontrei textos na net que falam sobre a síndrome do mutismo seletivo, na qual encontro características que percebia neste meu ex-aluno. Tenho minhas ressalvas quanto à classificação em síndromes, cids e tudo o que pode literalmente fechar uma pessoa num diagnóstico, mas da leitura sobre o mutismo seletivo me restou entender este silêncio e a sensação de impotência que faz parte da docência.
E o aluno partiu sem se despedir. E, quando eu contei a classe que ele havia partido, um aluno novamente perguntou:
-Mas tia, por que que ele não falava com a gente?
