sexta-feira, 6 de abril de 2012

Aprendizado pessoal.


Estava na minha sala de aula com os alunos e a estagiária, quando um deles fez um comentário:
-- Nossa, tia, você se chama Ana Paula e ela também !!!
E, eu, pensando em aproveitar a oportunidade para uma discussão mais pedagógica, aproveitei para fazer comparações e me coloquei ao lado da Ana:
-- É, a gente tem o mesmo nome, mas é diferente fisicamente: a Ana é alta, e eu sou baixa, a Ana é magra, é eu estou um pouco gordinha, a Ana é branca, e eu sou negra, ela é loira, e o meu cabelo é castanho escuro...
E, então, um aluno fez uma observação forte:
-- E ela é bonita e você não!
Juro que, na minha mente, passaram-se muitos sentimentos, inclusive aquele que traduz o sentimento de vaidade ferida. Mas, por fim, acho que tive uma boa atitude. Disse:
-- Gabriel, você pode achar a Ana mais bonita do que eu, porque isso é um gosto pessoal, só seu, mas, você tem que ter cuidado ao dizer isso, porque quando a gente diz a uma pessoa que a acha feia, a gente pode deixar essa pessoa triste.
E, me dirigindo a todos, eu perguntei a ele:
-- Se um amigo seu disser que te acha feio, você ficará triste ou alegre?
-- Eu vou ficar triste.
-- Vamos pegar outro exemplo - e chamei uma aluna que, na sala, é sempre convidada por todos para ser ajudante - se eu disser que a Kamily é feia, vocês acham que ela ficará triste ou alegre?
Todos responderam que ela ficaria triste. A classe concluiu que é errado dizer a uma pessoa que ela feia, embora tenham a liberdade de pensar dessa forma.
É óbvio que esta história não acaba aqui....Aproveitei para conversar com a estagiária, que ficou um pouco chateada com o que o aluno disse, ficou embaraçada. Respondi a ela que, infelizmente, é natural que os alunos, já nessa idade - seis anos - considerem que uma pessoa loira, alta e magra seja mais bonita do que as demais, pois é um padrão de beleza estabelecido na nossa sociedade. O que poderíamos fazer a partir do que aconteceu na sala? Não adiantaria agora realizar um debate com os alunos sobre o padrão estético deles, mas poderíamos organizar sequências didáticas sobre diferentes tipos de pessoas, montar murais com fotos de homens e mulheres que correspondam a outros padrões estéticos, inclusive iguais a eles próprios, para fazer novas comparações. Podemos também pesquisar na literatura infantil sobre livros cujos personagens sejam negros, indígenas, asiáticos, apresentar algo além dos contos de fadas europeus tão presentes no imaginário infantil, para que os alunos tenham acessos a outros príncipes ou princesas, a outros personagens principais que se aproximem também da realidade deles, sem excluir o que nos é clássico também na nossa infância. 
A comparação que esse aluno fez foi muito pertinente, porque originou uma reflexão com todos na sala, uma reflexão com a estagiária, uma reflexão sobre formas de atuar com os alunos sobre os padrões estéticos e uma reflexão pessoal sobre o meu próprio orgulho. É por essas e outras que é um grande aprendizado ser professora. 

APSR.

Anjos negros....


Estava em roda, com a turma do 1o ano que participa do projeto Jogos, que eu desenvolvo na escola. Eu estava explicando para um dos grupos sobre o jogo que eles iriam jogar, um quebra-cabeça sobre o alfabeto. Notei que um dos alunos estava muito quieto, e, como geralmente ele é um pouco bagunceiro, estranhei o comportamento dele. Fiz um cafuné no cabelo crespo todo enroladinho dele e perguntei:
-- Você está bem? Tá tão quietinho....
-- Tô bem....
-- Sabia que você tem cabelo de anjinho? Todo encaracoladinho, parece um anjo....
Um outro aluno que estava ao lado disse:
-- Ele só não é anjo mesmo porque anjo é branco, né, tia?
-- Não - eu digo - tem anjo negro também! Tem anjo branco, negro, indígena...tem anjo igual a todas as crianças do mundo! Você não sabia?
-- Não, que legal!
-- É, legal né? Agora vamos aprender como se brinca com esse jogo, olha só....

APSR.