Fiquei com várias dúvidas e imagens na mente sobre o que aconteceu na escola municipal de Realengo, no Rio de Janeiro.
Uma das imagens mais fortes é visualizar a ação dos professores, que no meio do desespero, segundo fatos descritos pelos alunos em vários canais de televisão, fechavam as portas das salas de aula, empilhavam carteiras para impedir a entrada do assassino, e orientavam para que seus alunos ficassem abaixados e em silêncio; há uma outra imagem ainda que me persegue, a do professor que, para proteger seus alunos, saiu e trancou a porta pelo lado de fora, pois por dentro a fechadura estava quebrada, ato que, nas palavras do aluno que fez a narrativa, foi o de um herói.
Imagens outras, do massacre em sí, da logística do ex-aluno, dos feridos e mortos, essas eu não preciso imaginar, pois são as mais divulgadas nos meios de comunicação, com detalhes que beiram ao masoquismo.
Das dúvidas, todas recaem sobre o Wellington, descrito por muitos como vítima de bulling. Mas, divago sobre a descrição dos irmãos adotivos e os problemas mentais que ele apresentava: sobre ser tímido já em família, sobre estudar sobre armas e violência desde pequeno, sobre desejar imitar o atentado de 11 de setembro, sobre bater a cabeça na parede de forma contínua. Segundo a família, a mãe biológica já apresentava um quadro de transtornos psiquiátricos, e o próprio Wellington passou por atendimento psicológico, interrompido após a morte dos pais adotivos.
Que tratamente teve esse filho e aluno? Um quadro aparente de esquizofrenia, como este, foi diagnosticado, tratado, teve um acompanhamento responsável por uma rede pública ou particular de saúde?
As indicações bibliográficas sobre bulling apontam que o aluno que comete a agressão precisa de auxílio, pois discriminar, agredir física ou verbalmente de forma dissimulada é um traço que necessita ser analisado, e pode ser também uma resposta a algo para o qual o aluno não consegue manejar ou compreender. A vítima de bulling necessita de auxílio para denunciar a agressão, para enfrentar o agressor e tudo aquilo que ele representou, expondo a intimidade da criança/adolescente/adulto agredido.
Mas, nem toda vítima de bulling pega em armas e atira nos outros. No caso de Wellington, me parece que havia algo anterior ao bulling, algo que vinha de uma estrutura psíquica que demandava ajuda.
A sociedade, antes de pensar em colocar detectores de metais nas escolas e trancafiá-- -las com mais muros e grades, poderia pensar no que pode fazer para ajudar novos e antigos Wellingtons, pode investigar se nosso sistema de saúde tem preparo para atender pessoas que, quando crianças "bateram a própria cabeça na parede", e depois, já adultos, decidiram atirar na cabeça dos outros.
Só mais uma imagem: a de um ex-aluno pedindo para visitar a antiga professora. Com essa eu me identifiquei bastante, já que, como professora, é gratificante ser lembrada por aqueles que passaram por nossas salas de aula. E, foi desse recurso que Wellignton usou para ter acesso as classes, após retirar um documento pedido na secretaria. Parece-me que o único ato estruturado por ele foi o planejamento de suas ações para matar e chocar o país, repetindo aqui os massacres presentes na sociedade norte-americana. De resto, ele todo era desestruturado.
por Ana Paula dos Santos Rodrigues.
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